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É grave o estado de saúde da menina baleada por defender o pai



Sinomar Lopes, pai de Kerolly Alves Lopes, menina baleada ao tentar defendê-lo, em Aparecida de Goiânia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera e arquivo pessoal)
Garota de 11 anos está internada em estado gravíssimo, em Goiânia.

Arrependimento. Esse é o principal sentimento do serralheiro Sinomar Lopes, pai de Kerolly Alves Lopes, de 11 anos: "Eu me sinto culpado... O que eu estou sentindo é dor demais, é sofrimento pra caramba e mágoa, culpa demais da conta". A menina foi baleada na cabeça há uma semana, ao defender o pai durante uma briga com o dono de uma pizzaria, em Aparecida de Goiânia. Ela está internada em estado gravíssimo.
Em entrevista ao Fantástico, Sinomar se emocionou, chorou em diversos momentos e falou da angústia ao ver a filha hospitalizada. "Hoje eu queria estar no lugar dela. Queria! Eu queria ser naquela hora lá. Porque o pai mesmo é pai e herói do filho, né? Eu estou sentindo no meu coração que, naquela hora, eu não fui ninguém. Uma culpa imensa vendo aquela menina lá", desabafa o pai.

Sinomar estava com Kerolly e a filha mais velha, Pérola Alves Lopes, de 14 anos, quando entrou na pizzaria para tirar satisfação com o proprietário, George Araújo. "Os outros falam que eu levei as minhas meninas para serem meu escudo. Jamais eu faria isso!", diz o pai. O crime aconteceu no dia 27 de abril.
Vídeo
A câmera de segurança do estabelecimento registrou o momento em que o serralheiro entra na pizzaria. Do lado de trás do balcão está o proprietário. Há dois meses, os dois tinham discutido porque Sinomar não quis pagar por uma pizza que havia demorado muito.
Armado, George manda Sinomar sair. Do lado de fora, as duas filhas de Sinomar tentam tirá-lo dali.
"Eu cruzei os braços e falei pra ele, sabe: Você quer atirar? Você atira, pode atirar. Virei as costas ainda pra ele atirar, ele não atirou em mim, você entendeu?", relata o serralheiro.
Pérola Lopes relata os minutos de tensão: "Quando eu vi o homem já tava apontando a arma pra ele. Eu falei assim: 'Solta a arma, por favor'. Nisso minha irmã já saiu do carro correndo, aí abraçou meu pai e eu também, puxando ele pra ir pro carro. Aí o homem falou: 'Vocês saem da frente, saem da frente'. Aí a Kerolly falou: 'Moço, por favor, abaixa essa arma'".
O vídeo mostra quando as meninas cercam o pai, puxam, mas Sinomar insiste em ficar. Uma delas pede ajuda para um homem que passa pela rua, mas ele foge.
Pelas imagens do vídeo é possível ver quando Kerolly deixou o pai e a irmã mais velha na calçada e correu em direção a uma farmácia, em busca de ajuda. Nesse momento, George se aproxima de Sinomar e de Pérola e faz o primeiro disparo. Pai e filha recuam.
O que eu estou sentindo é dor demais, é sofrimento e mágoa, culpa demais da conta"
Sinomar Lopes
Ao ouvir o tiro, Karolly volta. A partir desse momento, o vídeo não mostra mais o que acontece, mas o suspeito acerta um tiro na cabeça de Kerolly.
Dernorteado, o atirador corre, mas antes de entrar no carro e fugir ele volta até a esquina com o revólver na mão. A fuga de George foi filmada por pessoas que passavam pelo local. As testemunhas se revoltam, mas ele aponta a arma contra elas.
"Ele usou a arma também, além de efetuar os disparos e atingir as vítimas, pra garantir a sua fuga do local. Ele aponta a arma pra que ninguém chegue perto dele, porque os populares se revoltaram com a situação e tentariam segurá-lo, mas ele se utilizou da arma pra amedrontar essas pessoas", diz a delegada Marcella Orçai.
Quinze horas depois da confusão George se apresentou nesta delegacia. Ele prestou depoimento alegando ter disparado em legítima defesa, mas não foi preso. A lei determina que alguém seja preso em flagrante apenas se for detido no momento do crime, depois de uma perseguição ou se ainda estiver com a arma usada. Como não havia pedido de prisão, ele acabou liberado.
Na terça-feira (30), a Justiça decretou a prisão do dono da pizzaria. Desde então ele está foragido. O advogado que o acompanhou no depoimento desistiu da defesa.
A pizzaria está fechada desde o crime. Nela, a polícia encontrou um revólver de brinquedo, mas a arma de onde saiu o tiro que atingiu Kerolly ainda não apareceu. Na casa de George, ninguém atende.

Heroína
Na escola onde Kerolly cursa o quinto ano, o clima é de consternação. Alunos e professores rezam pela recuperação da menina todos os dias, no fim das aulas. Para a professora Luciane Müller, a menina é uma "pequena heroína".
"Na verdade, ela foi o adulto da situação. Demonstrou o amor ao próximo e o mais próximo dela, naquele momento, era o pai. No meu pensar, ela foi heroína nesta história. Ela salvou a vida do pai, da própria irmã e de outras pessoas que podiam ter passado naquele local", diz a professora.

Kerolly está em estado gravíssimo, na UTI do Hospial de Urgências de Goiânia (Hugo), e respira com a ajuda de aparelhos.
Estatisticamente ela entra num quadro que menos de 10% de pessoas sobrevivem a este tipo de lesão. "É bastante grave a lesão em si. E ela também está correspondendo à lesão. Ela também tem um quadro clínico bastante grave", explica Nasser Tannús, diretor técnico do Hugo.
O pai, no entanto, acredita na recuperação: "Eu tenho fé que Deus vai colocar a mão na cabeça dela e tirar ela dessa. Eu vou estar aqui esperando, de braços abertos. Mas ela vai encontrar um pai diferente. Com o mesmo carinho, mas diferente".

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